Principais Parasitas que Causam Anemia em Cães: Mecanismos, Diagnóstico e Tratamento

Introdução

A anemia em cães é uma condição clínica comum que pode ter diversas etiologias, sendo as infecções parasitárias uma das causas mais relevantes. Parasitas podem induzir anemia através de vários mecanismos, incluindo perda sanguínea direta, destruição de eritrócitos, supressão da medula óssea ou interferência na absorção de nutrientes essenciais. Este artigo aborda detalhadamente os principais parasitas associados à anemia canina, seus ciclos de vida, mecanismos patogênicos, manifestações clínicas e estratégias modernas de diagnóstico e tratamento.

1. Classificação dos Parasitas Anemizantes

Os parasitas que causam anemia em cães podem ser divididos em três grupos principais:

1. Endoparasitas hematófagos (que se alimentam de sangue)

2. Hemoparasitas (que infectam células sanguíneas)

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3. Ectoparasitas hematófagos (que causam anemia por espoliação)

2. Principais Parasitas Causadores de Anemia

2.1 Nematódeos Intestinais Hematófagos

Ancylostoma caninum

• Ciclo de vida: Penetração cutânea ou ingestão de larvas → migração pulmonar → intestino delgado

• Mecanismo de anemia:

  • Fixação à mucosa intestinal com placas dentadas

  • Secreção de anticoagulantes (inibidores da trombina)

  • Consumo diário de 0,1mL de sangue por verme

• Manifestações clínicas:

  • Anemia microcítica hipocrômica

  • Melena (fezes enegrecidas)

  • Edema periférico em casos graves

Uncinaria stenocephala

• Menos patogênico que A. caninum

• Causa anemia apenas em infestações maciças

2.2 Hemoparasitas

Babesia spp.

• Espécies importantes:

  • B. canis (transmitida por Dermacentor)

  • B. gibsoni (transmissão por Rhipicephalus e via vertical)

• Patogenia:

  • Invasão e lise de eritrócitos

  • Anemia hemolítica imunomediada secundária

• Quadro clínico:

  • Febre alta (41°C)

  • Icterícia

  • Hemoglobinúria

Ehrlichia canis

• Ciclo:

  • Transmitida por Rhipicephalus sanguineus

  • Infecta monócitos e linfócitos

• Mecanismos de anemia:

  • Supressão medular

  • Trombocitopenia consumptiva

  • Hemorragias secundárias

• Fases da doença:

  • Aguda (1-3 semanas)

  • Subclínica (meses a anos)

  • Crônica (anemia arregenerativa grave)

2.3 Protozoários Sistêmicos

Leishmania infantum

• Mecanismos de anemia:

  • Infiltração medular

  • Doença renal crônica secundária

  • Inflamação sistêmica

• Alterações hematológicas:

  • Anemia normocítica normocrômica

  • Leucopenia

  • Trombocitopenia

2.4 Ectoparasitas

Infestações por Ctenocephalides felis

• Mecanismo de anemia:

  • Perda sanguínea crônica (até 15mL/dia em infestações graves)

  • Mais comum em filhotes

• Complicações:

  • Dermatite alérgica

  • Transmissão de Dipylidium caninum

3. Diagnóstico Diferencial

3.1 Exames Laboratoriais

• Hemograma completo:

  • Anemia regenerativa (parasitas hematófagos)

  • Anemia arregenerativa (Ehrlichia, Leishmania)

• Bioquímica sérica:

  • Hipoproteinemia (Ancylostoma)

  • Aumento de bilirrubina (Babesia)

3.2 Diagnóstico Específico

• PCR (padrão-ouro para hemoparasitas)

• Testes sorológicos (SNAP 4Dx Plus)

• Exame de fezes (técnica de flutuação)

4. Abordagem Terapêutica

4.1 Tratamento Específico

• Ancilostomose:

  • Pamoato de pirantel (10mg/kg)

  • Repetir após 2 semanas

• Babesiose:

  • Imidocarb dipropionato (6mg/kg IM)

• Erliquiose:

  • Doxiciclina (10mg/kg/dia por 28 dias)

4.2 Suporte Hematológico

• Transfusões (PCV <15%)

• Suplementação:

  • Ferro dextrano (10mg/kg IM)

  • Ácido fólico (1mg/kg/dia)

5. Prevenção

• Controle integrado de parasitas:

  • Vermifugação estratégica

  • Uso de ectoparasiticidas

  • Coleiras impregnadas com deltametrina

• Monitoramento:

  • Hemograma trimestral em áreas endêmicas

  • Testes rápidos antes de cirurgias

6. Considerações Zoonóticas

• Ancylostoma braziliense (larva migrans cutânea)

• Leishmania infantum (leishmaniose visceral humana)

Conclusão

O diagnóstico preciso e o tratamento imediato das parasitoses anemizantes são essenciais para o prognóstico favorável. A abordagem multidisciplinar, incluindo controle parasitário, suporte nutricional e monitoramento hematológico, é fundamental para a saúde canina. Veterinários devem estar atentos aos sinais sutis de anemia crônica, especialmente em áreas endênicas para hemoparasitas.

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