Importância Veterinária de Sarcoptes scabiei
Introdução
Sarcoptes scabiei é um ácaro parasita responsável pela sarna sarcóptica, uma das dermatopatias mais pruriginosas e contagiosas que afetam animais domésticos e selvagens. Este ectoparasita tem grande relevância na medicina veterinária devido ao seu alto potencial de transmissão, ao intenso desconforto que causa nos hospedeiros e às possíveis complicações secundárias, como infecções bacterianas e perda de produtividade em animais de criação. Este texto abordará a biologia do parasita, suas manifestações clínicas, métodos de diagnóstico, impactos econômicos e estratégias de controle, destacando sua importância na clínica de pequenos e grandes animais.
Biologia e Ciclo de Vida
1. Morfologia e Características do Parasita
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Sarcoptes scabiei é um ácaro microscópico (0,2–0,5 mm), de corpo arredondado e pernas curtas.
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As fêmeas escavam túneis na epiderme para depositar ovos, enquanto os machos vivem na superfície da pele.
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Possui um ciclo de vida completo em cerca de 14 a 21 dias, passando por estágios de ovo, larva, ninfa e adulto.
2. Hospedeiros e Especificidade
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Variantes diferentes do parasita afetam espécies distintas:
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S. scabiei var. canis (cães e outros canídeos).
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S. scabiei var. suis (suínos).
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S. scabiei var. bovis (bovinos).
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Humanos podem ser infestados temporariamente (zoonose), causando dermatite transitória.
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3. Modo de Transmissão
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Contato direto entre animais infectados e saudáveis (principal via).
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Fômites (cobertas, escovas, ambientes contaminados).
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Sobrevive no ambiente por até 72 horas, dependendo da umidade e temperatura.
Manifestações Clínicas
1. Sinais Dermatológicos
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Prurido intenso (coceira), principalmente à noite, devido à movimentação do ácaro e reação alérgica.
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Alopecia (perda de pelo) em regiões como orelhas, cotovelos, abdômen e face (em cães).
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Eritema (vermelhidão), pápulas, crostas e lesões por automutilação.
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Hiperqueratose (espessamento da pele) em casos crônicos.
2. Espécies Afetadas e Particularidades
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Cães: Lesões começam nas bordas das orelhas, espalhando-se para o corpo.
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Suínos: A sarna é uma das principais causas de perda econômica, com crostas grossas nas orelhas e dorso.
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Bovinos e caprinos: Menos comum, mas pode causar queda na produção de leite e peso.
3. Complicações Secundárias
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Infecções bacterianas (Staphylococcus, Streptococcus) devido à ruptura da barreira cutânea.
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Dermatite alérgica por hipersensibilidade aos ácaros.
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Caquexia (emagrecimento extremo) em casos graves, devido ao estresse crônico.
Diagnóstico
1. Exame Clínico e Anamnese
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História de contato com animais infectados.
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Prurido intenso e distribuição típica das lesões.
2. Testes Laboratoriais
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Raspado cutâneo profundo (visualização do ácaro, ovos ou fezes ao microscópio).
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Teste serológico (ELISA para detecção de anticorpos, útil em infestações crônicas).
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Biopsia de pele (em casos atípicos).
3. Diagnóstico Diferencial
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Sarna demodécica (causada por Demodex, menos pruriginosa).
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Dermatite alérgica (atopia, alergia alimentar).
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Piodermite bacteriana.
Impacto Econômico
1. Na Pecuária
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Suinocultura:
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Redução no ganho de peso (até 10% menos crescimento).
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Maior conversão alimentar (gasto excessivo com ração).
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Condenação de couros no abate.
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Bovinocultura:
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Queda na produção leiteira.
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Custo com tratamentos e controle.
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2. Na Clínica de Pequenos Animais
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Gastos com consultas, exames e medicamentos.
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Internações em casos graves.
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Risco de surtos em canis e abrigos.
Controle e Tratamento
1. Acaricidas e Medicamentos
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Amitraz (banhos ou soluções tópicas).
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Ivermectina (oral ou injetável, exceto em raças sensíveis como Collie).
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Selamectina e Moxidectina (pipetas spot-on).
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Sulfato de enxofre a 2% (banhos em suínos e cães).
2. Medidas de Manejo
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Isolamento de animais infectados.
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Desinfecção ambiental (lavagem com água quente, inseticidas).
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Tratamento de todos os animais em contato (mesmo os assintomáticos).
3. Prevenção
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Evitar aglomerações em canis e fazendas.
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Quarentena para novos animais.
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Uso de preventivos tópicos mensais (ex.: fluralaner, sarolaner).
Zoonose e Saúde Pública
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Humanos podem desenvolver escabiose pseudosarcóptica (lesões transitórias, sem túneis).
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Profissionais veterinários e tratadores estão em risco ocupacional.
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Medidas de higiene são essenciais para evitar a disseminação.
Conclusão
Sarcoptes scabiei é um parasita de extrema importância veterinária devido ao seu alto grau de contagiosidade, impacto econômico na pecuária e desconforto causado em animais de companhia. Seu diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais para evitar complicações e surtos. Além disso, a conscientização sobre medidas preventivas e controle ambiental é essencial para reduzir sua disseminação. Veterinários, produtores e tutores devem estar atentos aos sinais clínicos e adotar práticas sanitárias rigorosas para minimizar os prejuízos associados a essa ectoparasitose.
Referências (exemplos):
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Bornstein, S. et al. (2001). Sarcoptes scabiei infections in the domestic dog. Veterinary Parasitology.
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Arlian, L. G. (1989). Biology, host relations, and epidemiology of Sarcoptes scabiei. Annual Review of Entomology.
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USDA. (2018). Economic impact of swine mange. Agricultural Research Service.