
Mecanismos de Ação dos Antiparasitários em Helmintos
Introdução
Os helmintos, popularmente conhecidos como vermes, são parasitas que causam diversas doenças em humanos e animais. Eles são classificados em três grupos principais: nematódeos (vermes redondos), cestódeos (vermes achatados) e trematódeos (vermes foliáceos). Para combatê-los, são utilizados medicamentos antiparasitários, que atuam de diferentes formas, dependendo da classe química do fármaco e do tipo de helminto.
Neste texto, abordaremos como os principais antiparasitários agem contra os helmintos, incluindo seus mecanismos moleculares, alvos terapêuticos e resistência parasitária. Além disso, discutiremos os fármacos mais utilizados na medicina humana e veterinária.
1. Classificação dos Antiparasitários Anti-Helmínticos
Os antiparasitários podem ser divididos em grupos com base em sua estrutura química e mecanismo de ação:
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Benzimidazóis (Albendazol, Mebendazol, Tiabendazol)
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Macrolídeos Lactônicos (Ivermectina, Doramectina, Moxidectina)
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Imidazotiazóis (Levamisol)
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Tetra-Hidropirimidinas (Pirantel, Oxantel)
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Aminopirazinas (Praziquantel)
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Outros (Nitazoxanida, Diethylcarbamazine)
Cada um desses grupos age em diferentes vias metabólicas ou estruturas dos helmintos, levando à sua morte ou incapacidade de sobrevivência no hospedeiro.
2. Mecanismos de Ação dos Principais Antiparasitários
2.1 Benzimidazóis (Albendazol e Mebendazol)
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Alvo principal: β-tubulina, uma proteína essencial para a formação dos microtúbulos do citoesqueleto dos helmintos.
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Mecanismo:
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Ligam-se à β-tubulina, impedindo a polimerização dos microtúbulos.
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Isso bloqueia a divisão celular (mitose) e a formação de estruturas como o citoesqueleto e o aparelho de Golgi.
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Resulta em paralisia e morte do parasita por falha no transporte intracelular.
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Eficácia: Ativo contra nematódeos (como Ascaris lumbricoides e Ancylostoma duodenale) e alguns cestódeos (Taenia solium).
2.2 Macrolídeos Lactônicos (Ivermectina)
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Alvo principal: Canais de cloreto dependentes de glutamato (GluCls), presentes em neurônios e células musculares de nematódeos e artrópodes.
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Mecanismo:
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A ivermectina se liga a esses canais, causando hiperpolarização das células nervosas e musculares.
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Isso leva à paralisia flácida, impedindo a alimentação e locomoção do parasita.
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Também afeta a reprodução de fêmeas de Onchocerca volvulus (causador da oncocercose).
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Eficácia: Amplamente usado contra nematódeos (como Strongyloides stercoralis) e ectoparasitas (ácaros e piolhos).
2.3 Levamisol (Imidazotiazóis)
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Alvo principal: Receptores nicotínicos de acetilcolina (nAChRs) nos músculos dos nematódeos.
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Mecanismo:
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Age como um agonista colinérgico, causando contração muscular contínua.
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Leva à paralisia espástica, expulsando o verme do trato gastrointestinal.
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Eficácia: Usado contra Haemonchus contortus (em ovinos) e Ascaris em humanos.
2.4 Pirantel (Tetra-Hidropirimidinas)
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Alvo principal: Receptores nicotínicos neuromusculares.
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Mecanismo:
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Bloqueia a transmissão neuromuscular, causando paralisia.
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Age como um “depolarizante”, mantendo os canais abertos até a exaustão.
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Eficácia: Eficaz contra nematódeos intestinais (Enterobius vermicularis e Ancylostoma).
2.5 Praziquantel (Aminopirazinas)
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Alvo principal: Cálcio intracelular e tegumento de cestódeos e trematódeos.
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Mecanismo:
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Causa influxo de cálcio, levando a contrações musculares violentas.
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Danifica o tegumento, expondo o parasita ao sistema imunológico.
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Induz vacuolização e morte do parasita.
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Eficácia: Tratamento de escolha para esquistossomose (Schistosoma mansoni) e teníase (Taenia).
2.6 Nitazoxanida
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Alvo principal: Enzimas dependentes de piruvato ferredoxina oxidoredutase (PFOR).
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Mecanismo:
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Inibe a produção de energia via fermentação anaeróbica.
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Leva à depleção de ATP e morte do parasita.
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Eficácia: Ativo contra protozoários (Giardia) e alguns helmintos.
3. Resistência Parasitária a Antiparasitários
A resistência é um problema crescente, especialmente na veterinária, onde o uso excessivo de anti-helmínticos seleciona parasitas resistentes. Os principais mecanismos incluem:
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Mutação na β-tubulina (Benzimidazóis).
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Alteração nos canais de cloreto (Ivermectina).
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Aumento da detoxificação enzimática (P450 e glicoproteínas de efluxo).
Estratégias para reduzir a resistência:
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Rotação de princípios ativos.
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Uso combinado de fármacos.
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Monitoramento parasitológico regular.
4. Conclusão
Os antiparasitários atuam em diferentes alvos moleculares dos helmintos, desde a inibição da divisão celular (benzimidazóis) até a paralisia neuromuscular (ivermectina e levamisol). O praziquantel destaca-se contra vermes achatados, enquanto a nitazoxanida tem ação ampla.
A resistência parasitária exige manejo racional desses fármacos, com estratégias como rotação e combinação de drogas. Pesquisas contínuas são necessárias para desenvolver novos compostos e garantir o controle eficaz das helmintoses.
O entendimento desses mecanismos é essencial para tratamentos mais eficazes e a preservação da eficácia dos antiparasitários no futuro.
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